O Outubro e o desprender das folhas
Outubro 10, 2017
Ricardo Correia
Chegamos a Outubro e com ele vem o Outono, e o desprender das folhas das árvores. Pois é, assim como o Outono também nós nos preparamos para desprender os nossos filhos de nós. É o começo das aulas, das actividades, do reencontro com os colegas...
Neste caso de alguns colegas, pois o Xavier entrou este ano para o 10º ano e mais uma aventura prestes a começar na sua vida. Este, já mais autónomo com 14 anos, segue a pé para escola sozinho, já se desprendeu dos pais.
A Ema, agora com 8 anos e no 3º ano de escolaridade, quando deixada à entrada da escola primária lança um aceno triste ainda com os olhos meio lacrimejados. Ainda custa desprender-se de nós. Para Ema a escola é uma dor de cabeça e um sítio triste para a deixar-mos! Ainda não entendeu que é para o bem dela. A mudança de professora depois de dois anos com a mesma, não cabe na cabeça de ninguém! Os miúdos estranham tanto, e não lhes traz vantagens nenhumas, será que não vêem que isto está errado? Ou será só eu que não concordo com isto? Um professor primário não deveria estar pelo menos quatro anos com uma turma?
Nesta altura tiramos sempre uma semana de férias por causa da azáfama do inicio de aulas. É as reuniões nas escolas. A loucura das compras do material escolar, o encomendar dos livros, e o preparar as roupas novas para a chegada do Inverno.
Como eu e a Cláudia não temos muita paciência para compras, pelo terceiro ano consecutivo decidimos encomendar os livros pela wook. São rápidos nas entregas e o site deles é tão fácil de usar que nos poupa imenso tempo. É só entrar pelo nome da escola e voilá, já aparecem todos os livros adoptados e é só fazer a encomenda. Rápido e fácil. Em menos de três dias tinha os livros em casa.
Aquele aceno triste, faz-me lembrar que também a mim me custa desprender do Verão, é o desprender dos risos dos miúdos a chapinhar no mar. Os mergulhos atabalhuados, o nervosinho miudinho de quando vem uma onda maior do que o normal. "- Pai esta é muito grande... - grita a Ema." E para nós é uma onda miudinha que nos dá pela cintura. "Pai atira a bola para a defesa da tarde!" - grita o Xavier. Gostamos de jogar à bola dentro de água, a fingir que somos guarda-redes. Sim porque na água sou um mestre atiro-me ao ar sem medo, pois a agua é fofinha e sinto-me um herói. Enquanto na areia é um bocadito dura para mim... e o reumático chega a todos. 😃A pois é...
Para mim praia é água. Se a bandeira está vermelha então é o desespero. Sufoco. Prefiro olhar para a bandeira antes de estacionar o carro, e se está vermelha então meus amigos, vou procurar uma praia com bandeira verde. A Cláudia é que gosta de estar a torrar ao sol estendida na toalha. Eu não tenho paciência, sou daquele tipo de gente que prefere secar-se enrolado na toalha, de pé, tipo estaca. A olhar o ambiente ao meu redor.
Quando olho para o lado está Bia com a boca cheia de areia. Com uma carita muito enjoada a perguntar-se que raio é aquilo que enfiou na boca. Qual petisco mais ruim! Lá vou eu com a tolha limpar-lhe a boca e tentar tirar o máximo de areia da língua e do interior das bochechas. A pá e o balde é só para ocupar espaço no areal. A pá agita no ar, de vez em quando serve de arremesso de areia para cima de nós, ui que maravilha... chuvinha de areia. É tão bom! O Xavier sai à mãe é mais dado a areia e a estar estendido ao sol.
O ritual é quase sempre o mesmo, estender as toalhas, montar o chapéu de sol made in "sumol" e reivindicar aquele bocado de espaço para nós. Vamos dar uma volta a pé pela beira-mar com a praia ainda meio cheia. E depois à vinda para cá um mergulho para refrescar. Entre o ir e o vir a praia já está à pinha e à nossa volta nasceram cogumelos de vizinhos. A Bia tipo tractor não está para ziguezagues e segue a direito por cima das toalhas enchendo-as de areia. Ok! Se te querias limpar, esquece, na toalha ou na areia é igual ficas croquete. "- Bia...! - Reclamam os irmãos. E ela sem ligar importância ao facto de estarem a reclamar com ela." Simplesmente sorrindo da patifaria que fez.
Volto ao agora e retribuo o aceno triste, assim como a mãe, observando a aquela pequenita de mochila às costas. Parece que ainda ontem nasceu e hoje já ali vai. Meio insegura e tímida. É assim a Ema um anjinho inseguro, que precisa de ganhar confiança em si. E pronto, também eu e a Cláudia sofrendo com o desprender das folhas!