Sem mais nem menos - parte 2
Março 13, 2018
Ricardo Correia
Olhou-a nos olhos, tentando ver o interior da sua alma. Como se conseguisse ler a sua mente. Vasculhar o seu interior, as suas ideias, mas era em vão!
Um pensamento deveras idiota. Afinal de contas era impossível conhecê-la no seu íntimo. Porquê deixar que ela invadisse o seu mundo, quando à tão pouco tempo se conheceram?
Deixou quebrar a barreira e aceitou a sua presença a seu lado. No fundo era como se se conhececem a vida toda. Sentiu uma ligação imediata, uma atracção especial, intensa e profunda.
Os seus olhos azuis cativantes, a sua beleza natural, com os seus cabelos longos e loiros eram o seu cativeiro.
Abraçaram-se durante segundos. Dois corações a baterem em uníssono complacentes, sem qualquer tipo de dúvida dos seus sentimentos. Ela, suspirou por segundos e afastou-se ligeiramente. Olhou-o, cabisbaixa, e com tristeza na voz, vociferou.
- Sabes que tenho de ir, não sabes? Não posso ficar mais tempo.
Ele acenou ligeiramente com a cabeça em sinal afirmativo. Sentiu uma tristeza profunda e, a amargura a tomar conta do seu corpo, consumindo-o. No fundo queria dizer-lhe para ficar, que a sua vida sem ela não fazia mais sentido. Estaria a ser egoísta? De querê-la só para si. Não a queria partilhar com mais ninguém!
À medida que ela se afastava agarrou-lhe nas mãos, e prendeu-as junto ao seu peito. Ficando frente a frente, sem saber como dizer adeus. Inclinou-se ligeiramente, atraído pelos seus lábios, e beijou-a apaixonado.
Ela deixou que uma lágrima lhe escorresse pelo rosto. De coração partido afastou-se e sussurrou um adeus.
- Espera... Voltarei a ver-te?
Ela voltou-se ligeiramente e encolheu os ombros. Fitou-o por instantes e respondeu:
- Se o destino assim o quiser!
Ele contemplou a sua figura a desaparecer na noite. Ainda incrédulo, de como os astros lhe apresentaram aquela mulher linda e cheia de mistério. Ficando só na companhia da Lua, viu a sua amada desvanecer. Porquê perdê-la assim? Se ao menos pudesse lutar pelo seu amor. Mas pouco sabia sobre a sua vida, somente que o seu sorriso o cativou, no mesmo segundo em que ele a viu e os seus olhares se cruzaram.
Caminhou descontente e cabisbaixo de mãos nos bolsos, sem pressa de chegar a casa. Nada lá o esperava, porquê voltar!
À medida que fazia o seu regresso a casa as imagens daquele momento assaltavam-no. Porque teria ela que partir? O que a levaria a afastar-se? Para onde iria? Estaria ela a testar o destino, respondendo-lhe sempre da mesma maneira? Estas questões atormentavam-no, qual pesadelo numa noite mal dormida. Seria só mais uma de muitas, já que Tomás Valente não conseguia tirar Joana dos seus pensamentos.
Mas afinal de contas o destino os tinha juntado novamente. Primeiro na pequena livraria e agora, quando menos esperavam.
É verdade que Tomás o forçara, fazendo o mesmo percurso pedestre desde à um mês para cá. Queria vê-la mais do que tudo nem que para isso fosse todos os dias à pequena livraria e à pastelaria, só na esperança de a poder ver outra vez.
E ali se tinham encontrado, sem mais nem menos, à porta do teatro.
Vieram-lhe à memória os olhos brilhantes de Joana ao vê-lo, e os seus, como numa explosão de alegria retribuíram o êxtase do reencontro. Viram a peça juntos, cúmplices de um sentimento inexplicável, tão súbito.
Tomás deixou descair a sua mão ao encontro da mão dela. Reticente afagou-a. Com um nervoso miudinho esperou que ela o repelisse, mas para sua surpresa e alegria assim não aconteceu.
Era a estreia de uma peça dramática e Tomás tinha bilhete, este, oferecido por um amigo que não gostava de dramas, nem teatro.
Pensou no feliz acaso. O destino os tinha juntado num teatro dramático.
Dramas! Sorriu para si. Era o que este momento lhe transmitia. A sua vida acabara de virar um drama, em torno da mulher misteriosa. Refém do destino.