Agora que me tornei doméstica também me calha ir às compras, o que é normal, embora não goste de ir sozinho. Prefiro que a Cláudia vá comigo. Se por acaso calha ir sozinho, então sou um chato de primeira, e assim que entro no supermercado ligo-lhe. Sou capaz de fazer as compras todas com ela ao telefone.

No outro dia fui com a Beatriz às compras. Ela foi a empurrar um daqueles carrinhos feitos à medida para as crianças. Lá ia ela toda feliz e com ares de importante. Como quem diz, "eu já sou muito crescida". À medida que íamos passando nos corredores, crescia a ansiedade de pôr alguma coisa dentro do carrinho. Como eu demorei muito tempo a fazê-lo, agarrava num produto que lhe chamasse atenção, geralmente o mais colorido e punha-o lá dentro. Lá ia eu dizer-lhe "bebé, o papá não quer isso. Tem que ficar aqui. Está bem?" Ela meio tristonha lá respondia num tom meio arrastado. "Está bem papá".

Então como eu continuava indeciso ela adotou outra técnica. Que foi o de agarrar num produto qualquer e começar a perguntar "Queres isto papá?" então como eu dizia que não ela logo agarrava noutro e perguntava outra vez "Queres isto papá?" e outra vez e outra vez e outra vez... Quando finalmente lhe disse quero este, aqueles olhos raiaram de felicidade. Agora sim era uma senhora de verdade. Já fazia compras com o seu próprio carrinho e com produtos lá dentro. Então passou a deslizar e a abanar as ancas enquanto empurrava o seu carrinho, independente, como uma senhora crescida.

A birra veio depois quando descobriu que não podia levar o carrinho com ela para fora do supermercado. "Quero o meu carrinho".

Mas mesmo assim esta pequena conquista deixou-a super orgulhosa de si. E vê-la com os olhinhos a brilhar de felicidade, com uma coisa que para nós é tão banal e chata, foi o mais compensador.